A tragicomédia fala do preconceito e trata da atualidade político-social do Brasil através da figura de uma burguesa perseguida pela própria visão intolerante da sociedade, sem saber lidar com a solidão e as relações num tempo de ódio e corrupção vistos sem vergonha.
Os famosos “prints” das redes sociais foram o ponto de partida para a construção do texto, uma colagem de falas reais de figuras públicas e de anônimos, atualizando o conto “Creme de Alface”, do renomado Caio Fernando Abreu. A peça aborda as barbáries sempre lidas e ouvidas de forma tão escancarada no dia-a-dia e, agora, acentuadas nos últimos tempos, não só na internet.
A criação do espetáculo começou em 2015, na efervescente crise política do país. Inspirado nas suas memórias da “Mulher Monga” dos parques e circos nordestinos (ou Conga, a mulher gorila no sudeste), José Neto Barbosa aborda a intolerância, decorrente da discriminação vista e sentida no convívio social.
O conto de Caio Fernando Abreu foi escrito em plena ditadura militar, embora ainda seja tão atual. Foi publicado em 1995. Pouco antes de falecer, o escritor declarou: "o que me aterroriza neste conto de 1975 é sua atualidade. Com a censura da época, seria impossível publicá-lo. Depois, cada vez que o relia, acabava por rejeitá-lo, com um arrepio de repulsa, pela sua absoluta violência. Assim, durante 20 anos escondi até de mim mesmo a personagem dessa mulher monstro fabricada pelas grandes cidades. Não é exatamente uma boa sensação, hoje, perceber que as cidades ficaram ainda piores, e pessoas assim, ainda mais comuns".